Preferia que o meu centésimo post fosse para assinalar uma efeméride, comemorar alguma data especial. Se pudesse escolher, escreveria no centésimo post as minhas conclusões, falaria, ou pelo menos tentaria falar de forma objectiva, apresentando dados sobre a nossa economia, a saúde de nossas finanças públicas. Se dependesse de mim, contaria uma anedota no centésimo post e arriscaria alguma tirada sarcástica. Mas não...este centésimo post é para traduzir a tristeza que me vai na alma: "Dúdu Pintcho" foi assassinado à facada, hoje de madrugada!
É sintomático como nessas horas nos revoltamos, ficamos chocados, desejamos que a justiça seja implacável, caimos até na tentação de fazê-la com as nossas próprias mãos...fazemos "posts", carpimos a nossa dor, solidarizamo-nos com a família da vítima...mas alguns dias depois, tudo passa! Vários "Dúdus" têm perecido desta forma: brutal, ignóbil, violenta! Temos uma sociedade violenta e já chega dessa história de "povo de brandos costumes". Não temos o potencial de "violência colectiva", que vemos noutras paragens...mas possuimos um potencial de violência individual, que nos leva a estas atitudes, por razões fúteis!
Brigamos por nada! Discutimos por nada...um mero ponto de vista diferente, o penalty mal marcado contra a nossa equipa, a derrota do nosso candidato nas eleições, a briga do nosso cão...com o do vizinho. São sempre "motivos" para uma atitude violenta!
Naturalizamos a violência com gestos, palavras...não encaramos frontalmente esta problemática, não sanamos a fonte de conflito à nascença e deixamos que ela atinja o pico, para depois fazermos o "damage control"...amanhã quem fará o "damage control" da Raquel, da Lena, do Tony, do Calú? Temos uma temática que precisa ser abordada nas escolas, na Universidade. A "gestão/transformação de conflitos" é um debate das sociedades modernas onde os conflitos estão mais latentes. Onde as diferenças são mais epidérmicas, onde a violência estrutural e a violência directa - entre/com pessoas - atingem proporções alarmantes. Mais do que abordar a "violência estrutural" da pobreza, diferenças sociais, desemprego, precisamos tratar dos micro-conflitos, numa abordagem humana, de aceitação das diferenças, de respeito pelo próximo, pela vida e pelos objectivos contrários.
Hoje os meus pensamentos vão para o Dúdu, mas vão também para as últimas vítimas de violência que o nosso país assinalou!
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4 comments:
Já agora primo, espero que os teus pensamentos estejam tb com as vitimas silenciosas da violência doméstica, outra ponta do iceberg da violência crioula. Ou é por serem do genero femenino, na sua maioria, que não se solidariza com elas?
Ano bom cheio de luz, paz, saúde e VIDA, este valor que não vale nada aí na tapadinha
HFontes
Na verdade Leta, costumo dizer nas nossas reuniões do Laço Branco que deve-se abordar a VBG numa perspectiva mais global da violência directa, em Cabo Verde. Ainda no outro dia, referia este ponto. Sem um combate à violência, latu sensu,o combate à VBG poderá se tornar estéril e infrutífero! Portanto, estamos sintonizad@s...
Tudo o que me desejaste, em dobro pra ti!
EM
Edson
Tu fazes parte do LAÇO BRANCO???????
Só podes estar a brincar....
Sou sim...e tu, queres fazer parte?
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