28.10.09

A primeira missão de Veiga como líder do MPD: como se mete o pé na poça!

Acompanhei a visita realizada pelo recém "entronizado" líder do MPD, Carlos Veiga, à ilha de S. Nicolau. Primeiro dizer que não me surpreendeu! Já estava à espera que ele fosse e que dissesse o que disse: falta de sensibilidade do Governo, falta de actuação das Câmaras e das instituições responsáveis, necessidade de uma acção forte e todo aquele blábláblá, a que já estamos acostumados.
Segundo, o que Veiga não falou - o que também não foi surpresa para mim - foi de soluções. Igual a si próprio, não apresentou soluções para a problemática dos deslizamentos de terra e as medidas que devem ser adoptadas para evitar tragédias e situações idênticas no futuro. Qual iniciante, Veiga não apontou as técnicas que há em termos de ordenamento de território, não mencionou os PDM e como devem ser vinculativos na expansão das vilas, o respeito escrupuloso que deverá ser feito aos cursos de água, as tecnologias e estratégias de inibição de deslizamentos.
Como quem vai com muita sede ao pote e com necessidade de alimentar a ala "rabentola" do seu partido, Veiga não falou sobre a estratégia de definição de uma política habitacional no país que tem as suas especificidades, pela forma como cresceram as Vilas, Cidades (e não é que o MPD sempre foi poder autárquico em SN?), sem ordenamento, não levou em conta (ou não quis levar em conta, porque conhece muito bem!!) a problemática da questão fundiária no país. Qual messias salvador da pátria, Carlos Veiga foi a S. Nicolau, como disseram e bem os autarcas locais, "brincar com o infortúnio das pessoas dessa ilha"!
E quando eu peço ideias, dizem que ainda é cedo, ou que estão a ser "geridas" a nível interno. Brincadeira tem hora, né!!

26.10.09

Dois pesos e duas medidas

Uma MULHER, JORNALISTA, foi condenada a 60 chibatadas por ter entrevistado um homem que confessou, em plena televisão, ter cometido adúlterio. Prefiro não entrar em considerações religiosas sobre a forma como é condenado o adúlterio pela Shar´ia (lei Islâmica) e a punição respectiva.
Contudo não posso deixar de notar algum silêncio de algumas "vozes" que se levantam sempre que os direitos humanos são violados noutras paragens. Não quero pensar que esse silêncio, que de nada é inocente, deve-se ao facto da Arábia Saudita ser uma aliada do "eixo do bem". É que neste caso, não é só o facto de um ser humano ser açoitado, é a liberdade de imprensa e de expressão a serem claramente violadas. Mais info´s aqui.

23.10.09

Aproveitando a "boca" do bianda...vamos fazer uma "onda da indignação"

A propósito da perda do poder de indignação e da necessidade de uma sociedade mais actuante, reivindicativa e presente, revisito um texto escrito há um ano atrás:
Fico indignado quando vejo essa classe média/alta, se desresponsabilizar de assumir o debate e a reivindicação, preferindo a lógica da acção colectiva oportunista e calculista, recolhendo-se nas piscinas, nos restaurantes, jogando mais no “erro do adversário” do que no mérito próprio. Cada dia que passa mais convicto fico que a lei mais aplicada em Cabo Verde é a “lei de Gerson” (campeão do mundo da copa de 74 que numa publicidade dizia: “eu quero é me dar bem”).
Quero energia e água, não porque é agradável ou para esbanjar, mas porque é uma necessidade básica dos seres humanos. Quero ter alternativas de lazer nesta cidade e no meu país e a possibilidade de conhecer o meu país. Quero poder estar na minha cidade, poder ir e vir e se alguém me assaltar, me agredir, me abordar com más intenções (o que pode acontecer em qualquer parte do mundo) quero ter a certeza que será punido, que o Estado fará valer meus direitos.
Quero concidadãos, amigos, colegas e camaradas que reivindiquem, que reclamem, que se manifestem quando algo vai mal, sem que se façam juízos de teor partidário. Prefiro uma sociedade que pense, que não se amarre a cargos estatais, livre da administração patrimonialista do Estado, onde imperam “donos de sinecuras” em vez de quadros que desempenham funções.
Fartei-me dessa perda do poder de indignação que naturaliza todas as atitudes e acções, nivelando por baixo, levando a essa inversão dos nossos valores. Já dizia um autor que o fracasso de uma sociedade começa quando os seus membros perdem o poder de indignação.

22.10.09

A revelação de uma estratégia...como se nós fossemos ingénuos!

Há alguns dias publiquei um artigo no qual falava sobre a estratégia do MPD/Carlos Veiga se basear, apartir de agora, num pilar comunicacional e de marketing forte para fazer frente à "afonia" de ideias e de propostas que seriam cobradas a curto/médio prazo.
E como o MPD já não me surpreende, eis que surge esta noticia no pasquim-propagandistico-de-ultra-direita-liberal, do lançamento de um livro, que não é mais que um arrozoado de "loas" à figura "da pessoa" como diria Caetano. É o confirmar de uma estratégia que já se anunciava, para substituir a moção de estratégia...que não existe!

19.10.09

As eleições directas no MPD e a máquina de construção de mitos e imagéticas

Declarados os resultados da eleição para líder do MPD, eis que entra em campo a máquina de campanha do MPD, pois que a mídia impressa e electrónica desempenham um papel importante na transmissão de “imagéticas”.
O conceito de mito político não é somente um fenómeno, uma pessoa, ou uma ideia, mas a representação que se faz desses fenómenos, pessoas ou ideias e as formas que elas assumem, através da contínua e sistemática reelaboração e repetição da imagem por meio de elementos simbólicos e míticos.
A transformação da política num espectáculo, facilitado pela personalização de candidatos e líderes, passando imagens que apelam ao imaginário individual e colectivo “assumindo” o real convida alguns actores políticos a se apresentarem ao eleitorado sem ideias e com propostas esvaziadas de conteúdo, no claro intuito de atingir as diferentes camadas sociais, principalmente buscando dar resposta a algumas expectativas e demandas remanescentes.

É o que acontece actualmente, por exemplo, no MPD. Por falta de uma motivação gerada de uma visão programática do futuro do país, em termos de governação, a candidatura de Carlos Veiga necessita de um forte pilar comunicacional e de marketing para sustentar os seus discursos. À ausência de ideias fortes e inovadores no que diz respeito à governação do país, o MPD responde com um discurso redondo, paliativo, esvaziado de consistência. É nada mais, nada menos do que um conjunto de “pseudo-propostas” que simplesmente tentam desconstruir o que existe actualmente. Não se vislumbram portanto medidas e propostas de fundo que dêem combate aos desafios do Cabo Verde da modernidade.

Por isso, há necessidade de uma máquina produtora de imagens e de mitos, capaz de fabricar imagens que agitem o eleitorado e passem a “fantasia” da inexistência de medidas e que continuem com a mensagem do partido único, cerceamento de liberdades e garantias e das ladainhas já pré-fabricadas para estes momentos eleitorais.
É aqui que entram o “Expresso das Ilhas” e o “Liberal on-line”. A redundância que era ter o Expri e o Liberal implementando a mesma estratégia de traçar o quadro negativo, com a linguagem com que o faziam, acarretando claros prejuízos para a versão impressa, o MPD viu-se obrigado a mudar o plano. Promoveu um autêntico refreshment do Expri, apostando na amenização do discurso e na busca de uma linha editorial menos anti-sistema e menos cáustica.
Redefiniu sua linha editorial, buscou articulistas de outras esferas políticas, reinventou cadernos atractivos para uma camada específica da população – a jovem – tentando assumir-se como um vector de transmissão dos anseios desta camada.

Assim, o papel de “terrorismo personalizado” e de “assassino de carácter” ficou para o Liberal. Versão electrónica em formato de pasquim propagandístico, com acesso facilitado pela diáspora e um custo de manutenção baixíssimo, o Liberal tem se afigurado como um instrumento fundamental de transmissão da mensagem do MPD, violando na maioria dos casos todos os preceitos de ética e deontologia jornalística que se possa imaginar num país considerado de livre, como é o caso de Cabo Verde.

É um exemplo inequívoco do que não deve ser o jornalismo, ficando ao “gosto do proprietário” e de suas relações e opções político-partidárias o tratamento que se dá a determinadas notícias e o enfoque, fazendo uso de uma linguagem de guerrilha, que não é usual em Cabo Verde.
O Liberal, além de uma clara opção populista no que toca à construção da imagem do líder, aposta na exacerbação do capital imagético que, quer queiramos quer não, ele detém, fruto da construção de um Cenário de Representação Política (CRP) cultivado e sacralizado durante anos, onde a dialéctica imagem/realidade é claramente desproporcional.

Por outro lado, a construção dessa imagética assenta também numa base tradicionalista e num saudosismo chegando mesmo a se transformar numa “ressurreição” profética de duetos, triunviratos e afins que marcaram um determinado período histórico. Aproveitando-se do nunca afastamento de Veiga, passa-se a ideia de quem esteve sempre presente e perfeitamente sintonizado com a realidade do país, mesmo que suas posições sejam um rosário de “é preciso fazer” e, portanto, não se vislumbrem ideias concretas de “como fazer” para lá chegar.
Neste momento o que se quer passar é a ideia de que Veiga é um predestinado, detém uma áurea e um ambiente favorável, adveniente de um potencial desgaste da governação. Tenta-se assim escamotear os casos de corrupção que marcaram a sua gestão, os desmandos, as opções erradas em termos de governação, a crise que se instalou no país e o descrédito a nível internacional.

É, por assim dizer, uma tentativa de reactualização periódica, de acordo com Mircea Eliade, em que o objectivo é interromper o fluxo normal do tempo histórico, ou ainda segundo a abordagem de Georges Sorel, que define o mito e a construção de imagéticas como um elemento mobilizador e apelativo à acção.

14.10.09

Quo Vadis MFL?

Manuela Ferreira Leite negou-se a qualquer tipo de entendimento com José Sócrates para dar governabilidade a Portugal, depois dos resultados eleitorais que determinaram a maioria relativa ao PS.
Aos partidos políticos exigem-se-lhes que tenham postura de Estado para determinadas questões de regime. Assim, o PSD deverá assumir claramente suas responsabilidades no que diz respeito à criação de condições de governabilidade para o Estado portugues, mas em última análise para a sua própria sobrevivência e do sistema político.
Com essa postura, MFL estará a fazer política de "terra queimada", já que foi pedida a sua cabeça, dificultando a vida à próxima liderança, ou estará tentando provocar a queda prematura do Governo? O certo é que optando pela segunda, via corre o risco de Sócrates aumentar a sua maioria. O maior número de votos conquistado pelo PS nas autárquicas poderá ser um prenúncio!

13.10.09

Entre blogs e blogueiros, o regresso...

Por opções pessoais, mantive-me um período afastado das lides blogueiras, onde avaliava a continuidade e o formato do "impresondigital". Não cabe a mim avaliar os blogs, os blogueiros, o tipo de escrita e a forma (ligeira) de se abordar certas questões. As avaliações que tenha que fazer, faço do meu blog. Não cabe a mim avaliar o contributo que os blogs dão, ou não, para o debate em Cabo Verde. O que me procupa é que algumas pessoas, pseudo-especialistas-em-kassu-body-e-gangs-urbanas utilizem este instrumento fundamental de comunicação nos tempos modernos de hoje, de forma leviana, para exporem seus "ciuminhos bobos" de quem quer ser "autoridade" em determinados temas e debates...o pior é que são incapazes de debater os temas e trazer dados e ideias novas sobre as matérias, simplesmente fazem picardias infantis, tentando desvalorizar o cerne da questão.
O que me deixa preocupado é que pessoas que aparentam algum potencial, alimentem ódiozinhos levianos, baseados em fragilidades academicas e que ainda não fizeram opções sérias na vida, em todos os níveis, utilizando o blog...
Mas é claro que o que mais me indigna é a capacidade de quadros, jovens, não serem donos de suas ideias, não se afirmarem pelas suas capacidades e preferirem utilizar os seus sites para prestar favores, à espreita de um lugarzinho ao sol...
Da minha parte, vou continuar com o meu estilo, dando as minhas opiniões sustentadas, baseado em dados e partindo de análises objectivas...não estou para reaccionarismo pueril. É esse o meu pecado!