13.8.09

A nova agenda americana para a África: uma mudança de atitude?

Confesso que não sou "fã" dos EUA e da política externa que tem optado por implementar nas diferentes partes do globo ao longo dos anos: a presença na América Latina e o patrocínio das ditaduras militares; a intervenção no Médio-Oriente e o apoio a autocracias lideradas por sheiks e grãos-vizires; e o paternalismo que sempre marcou as relações com a África são responsáveis por eu ser um "céptico-africano-em-relação-aos-EUA".
Há tempos escrevi sobre a eleição de Obama e afirmei que "de facto o que espera os EUA é uma mudança de atitude em relação à política externa é uma alteração de atitude no que toca às questões ambientais, assumindo uma posição de vanguarda e colocando os seus recursos e capacidades na busca de alternativas (energéticas)". A recente visita do Presidente americano ao Gana e agora da Hillary Clinton ao continente africano poderão ser demonstrações objectivas desta mudança.
Demonstra antes de mais uma ruptura com a perspectiva paternalista que sempre marcou a política externa americana. Põe a tónica na responsabilização das lideranças africanas e assume que o futuro do continente não diz respeito só à África, mas sim a todo o mundo.
Elegendo claramente os pontos que marcarão a agenda para a África, sendo eles o comércio, o desenvolvimento, a boa governação e o género, os EUA assumem querer ser um parceiro e não o patrão. De acordo com os dados, se a África sub-sahariana aumentar 1% de sua participação no comércio global (que é de 2%), representará mais do que a totalidade da assistência anual recebida pelos países desta sub-região! A África detém grandes potencialidades económicas e naturais, faltando neste momento rentabilizá-las com o comércio interno, entre os países (comercializamos mais com outras regiões do que íntra-continente), que representa um mercado de 700 milhões de pessoas, supressão de barreiras, investimentos na infraestruturação, comunicações, saúde, dentre outras áreas.
Vale dizer que, a meu ver, precisamos de uma mudança de atitude perante a África, a começar pela forma como se processa a cooperação. É preciso exigir mais dos Estados a quem se ajuda e criar critérios objectivos de elegibilidade, com base no respeito das prioridades da agenda mundial. Torna-se imperativo lidar com os países, soberanos, numa base de parceria e levando em conta suas fragilidades, quer económicas, institucionais, organizacionais e levando acima de tudo as suas especificidades étnicas e culturais. Mas é sobretudo na implementação de iniciativas que criem novas lideranças que deverá haver um investimento sem precedentes. Não me canso de referir que o grande problema da África tem a ver com as sucessivas lideranças que tem dirigido os países.

2 comments:

Amílcar Tavares said...

Então, caro Edson, é assim tão mau ser paternalista com esta corja de bandidos que governa o continente? É um erro grave destratar Robert Mugabe, por exemplo?

A fossa séptica do planeta é a África -- os 24 últimos do Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) são todos africanos! -- e a culpa é do Ocidente, mais precisamente os EUA?

Vamos lá raciocinar um bocado!

Edson Medina said...

Amilcar,
acho que não entendi muito bem o teu comentário, ou então noa entendeste o post. Eu apresentei exatamente a mudança de atitude dos EUA em relação à África. O Robert Mugabe, enquanto interessou, servia aos interesses do ocidente, depois é que se tornou descartável e a meu ver, deveria estar no banco dos réus e não num governo de coligação. Os EUA apoiaram a UNITA e várias outras gerrilhas no continente. Os EUA apoiam o Egipto e os governo de Mubarak. É exatamente essa aparente mudança de atitude que eu valorizo. Meu caro, na política externa e nos interesses dos Estados, não há santinhos...são todos pecadores, em funçao dos "interesses nacionais".
Acho que numa coisa concordamos: há que raciocinar um bocado!